Festa

De repente o céu abriu-se glorioso com todas as peneiras destapando o sol, as árvores acenavam verdes esperanças de todas as cores, a brisa acarinhava seu rosto, doce, licorosa feito carinho de amor, de repente era flor brotando em seu peito, formosa, bonita, delicada, e tudo lhe sorria feliz numa alegria de criança abraçando a vida... a vida, enfim, a lhe cobrir de beijos, a lhe jogar confetes, serpentinas, tudo se movia a lhe dar boas vindas.

Aprumou o corpo um pouco curvado pelo cansaço, ajeitou os cabelos num gesto esquecido, molhou os lábios, agora finos, com a saliva marejada pelo choro engolido... engole o choro... engole o choro... ouvira e engolira mais do que devia, engolira calada o grito, no susto a palavra maldita, arranhara a garganta de vontades e arfara no ar abafado que lhe batia mares de ressacas, movimento... e o coração apertado, uma ilha de sentimentos imprensados entre a fome e a sede, num peito congestionado pelo vício do desejo... desejava e era tão bom desejar, era como chorar olhando pro sol que latejava manhãs de verão no corpo sem marcas, sem manchas, liso de adornos, pronto... era como esperar o cabelo crescer e correr entre os dedos, os fios nas costas, cócegas no vento, desejar era o vento que alfinetava na pele os grãos da areia, era como correr e correr até convergir ao ponto que flutuava entre o interno da sua pálpebra e o externo da sua retina onde tudo refletia intenso até que sumisse... e sumir era como esquecer.

Aprumou o corpo num gesto esquecido, buscou na memória um sorriso e moveu o ar com a brisa do seu catavento...