O naufrágio da Medusa
A mocinha do mal que morre sozinha sem ninguém, todos vibraram extasiados. A desorientação da bruxa, enquanto seu corpo viaja em transe de enigmas, aplausos alucinados. Diante do silêncio e da perplexidade, ele voltou à garrafa que acabara de fechar. A escuridão da alma não mudará, mesmo pela quantidade gigantesca consumida de leite. Isso o corroendo por dentro, quem sabe, pela eternidade.
No noticiário relatos sobre antigas civilizações, no deserto do Peru, os Nazcas cortavam as línguas dos mortos e as amarravam num saquinho para que nunca mais atormentassem os vivos. Quando a gente pensa que afundou o máximo possível, sempre há um lugar mais embaixo. É dar voltas em círculos, quando se cansou de voar.
Virei para o outro lado e, contrariando a minha natureza, tentei dormir, nem que fosse só para calar os mortos. Afogada, descobri, a mais doce pessoa pode esconder o mais puro veneno. E, miseravelmente, tenho doses fenomenais.
E, na minha frente, a garota mais fria do Universo, planejando mais uma forma de dilacerar meu coração, em cada respiração o desejo de percorrer o caminho à sepultura. Não importa quão forte pode ser o panegírico, se ouvir apenas a versão da Chapeuzinho Vermelho, o lobo será sempre mal. Por mais que o Incal exposto seja o da paz, o naufrágio se torna inevitável e a medusa, sem outra opção, estará de volta as nostálgicas sombras pelágicas.