Medo da Chuva

Meus pensamentos já não tão vigilantes, tropeçam. A mente inquieta ganha espaço. Nessa disputa interior algo corrói as entranhas. Tudo dói. Tudo é só cansaço. Ainda tenho medo da felicidade. Dias de leveza e alegria tem um cheirinho de tempestade. Como um mau augúrio. O presságio das sombras que se aproximam. Não é porque me julgue não merecedora. Talvez seja. Sinto mesmo como se fosse um reflexo condicionado. Tantos estímulos reversos ao longo da vida que ficou comum. Entendo que tudo é mutável. Nada é tão eterno além do que dure. Mas, a felicidade é um estado tão raro, dá essa vontade de agarrar com unhas afiadas, coração atento e eternizar na alma. A tempestade a gente quer que passe logo, que venha o sol. Que a vida renasça. Não há apego a esse estado sombrio. Por isso quando a felicidade me pega distraída logo vem aquele receio. Até quando? Esse sorriso fácil, esses dias de verão, essa leveza? Já estou exausta dos passeios ao meu submundo. Quanto mais mergulho, mais descubro que me perdi pelo caminho. Mais fundo eu vou e mais cansada eu volto. Já nem encontro o fim do poço. Nem consigo impulso para o alto. São dias de sono, de seguir o autômato pela rotina. E carregar comigo a saudade do tempo em que eu reconhecia o encanto nas miudezas do dia a dia…

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 20/06/2023
Código do texto: T7818219
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