SINTONIA DO FRIO E DA DESIGUALDADE

O frio de junho reverbera durante o dia, impregnando cada canto da cidade com sua intensidade gélida. Enquanto as temperaturas despencam, as vendas no comércio se aquecem, impulsionadas por casacos, cobertores e acessórios de inverno. Cai a noite e sob as marquises desgastadas, os desafortunados encontram abrigo precário, protegendo-se do frio cortante que se infiltra pelas frestas de seus cobertores de papelão.

Não há como amar esse frio implacável quando aqueles que geram a riqueza são incapazes de se aquecer. É uma ironia cruel que, em meio ao inverno, os trabalhadores que labutam diariamente não possuam os recursos básicos para enfrentar o frio com dignidade. Enquanto o lucro floresce nos balanços dos grandes empresários, o calor do conforto escapa das mãos daqueles que o sustenta. Como aceitar essa injustiça, essa joça que tira sarro da vida daqueles que se dedicam de sol a sol? Enquanto uns aquece em mansões. com cobertores de luxo e aquecedores potentes, os trabalhadores que a riqueza produzem, enfrentam a dureza fria da vida e, os menos afortunados, a crueldade gélida das ruas. Batalhas contra contra o frio e contra a incerteza do amanhã. cuja vitória sempre é incerta.

A desigualdade social se revela nos termômetros e no frio que penetra os ossos, enquanto os privilégios se perpetuam sem questionamento. Que transformemos a prosa fria da desigualdade em uma poesia calorosa de solidariedade humana.

Adriano Espindola Cavalheiro, 17.06.2023, com frio de 8º graus na quente Uberaba