CANÁRIO ACROBÁTICO (prosa poética)
Tenho cá histórias loucas, em que só acredita o louco que quiser...
Numa tarde belíssima anunciando aquela noite, igualmente, bela, um canário em sua revoada revoa a sua arte. Voos perfeito como a sua canção de manobras infernais: Parafuso e variantes; Tuneau; Immelmann; Voo invertido; Tuneau barril. Eu nada perdia de pura admiração... Mais: Oito Cubano normal e reverso; Tuneau por tempo, Hammerhead e Manobras compostas.
De repente, da admiração à preocupação, quando o coitado despenca em loop estancando-se no solo. Vou em seu socorro:
— O que aconteceu? Uma rajada de vento inesperada? Andou bebendo?
Ele, atordoado, deixa-me ciente:
— Eu não bebo e não dou trelas aos vícios, e às observações idiotas como as suas.
— Então o que aconteceu?
Ele, levantando-se, sacudindo a poeira das penas, impossibilitado de poder voar com as avarias múltiplas na fuselagem, flaps e elerões, simplesmente, comunicou-me em assovios orquestrados:
— Eu tenho labirintite! Não deu tempo de ligar o piloto automático.
E, rapidamente, caminhou para um lugar seguro, pois no território do meu gato Sócrates, filosoficamente, pássaro de asas quebradas é sushi.