OS DOIS LADOS DO AMOR

 

O lado bom do Amor...falar do lado bom do Amor é como falar de todas as coisas no mundo como sendo perfeitas. Quando se ama até os defeitos nos convencem... porque simplesmente não há defeitos no amor...os erros são pequenos...os esquecimentos perdoáveis e todas as atitudes parecem já vir munidas de aceitáveis explicações que se aceitam alegremente...A chuva é doce...o sol um saboroso pingo de mel...a Primavera é a estação dos amantes e dos rouxinóis...As manhãs são adoradas e as noites mais desejadas do que nunca...Um respirar faz-nos sorrir...um suspirar do outro ao nosso lado enche-nos de emoção. É quase um milagre partilhar um momento assim, mesmo que ninguém veja o nosso sorriso porque já dormem tranquilos...O medo faz-nos lutar como feras e o desconhecido converte-nos em excepcionais aventureiros que nada temem...O nosso sorriso é parvo e cola-se aos nossos lábios de sem períodos para folgas ou descansos. Como a nossa boca trabalha feliz quando fabrica um beijo! O amor quando sorri para nós dá-nos a imortalidade...porque se morrermos abraçados é certo que subiremos aos céus...E quando o Amor fica negro e o lado mau do sentimento vem de cima galgando a escuridão? Falar do lado mau do Amor...é como falar de nada e de coisa nenhuma, porque já nada ali acontece...é dividir o que o Amor um dia uniu...é cortar em pedaços o corpo já sentido por inteiro...é vê-lo deformado em qualquer espelho. É quebrá-lo e imaginar os anos de angústia que nos vão olhar de frente. Quando já não há amor, só os defeitos nos prendem a atenção. Tudo se nota! Aquela pequena nódoa caída no peito que antes não estava ali. Aquela dúvida que ficou sem resposta. Aquela culpa malvada que adotamos como nossa e provavelmente não será a culpa de ninguém...Os erros surgem demasiados grandes e já não se medem aos palmos...o mínimo deslize é desculpa para uma tempestade nos encerrar todos os caminhos que iam dar á luz e passamos a viver como morcegos. Ávidos pela escuridão porque a claridade fere. A chuva é fria...cai gelada nos ossos. O sol parece que perde o calor...o Inverno é a estação das despedidas e de todos os silêncios que crescem gordos e satisfeitos com os restos de uma separação. Aqui jazem os abutres e os corações abertos devoram! As manhãs acordam com os olhos inchados e as noites são amaldiçoadas...trazem memórias e confusão. Respirar é um alívio. Por vezes pensamos que a escuridão até nos pode sufocar...ficamos hipocondríacos da dor e pedimos para encontrar o ar que gastamos nos gritos ao vazio. O suspirar é a nossa língua quando enterramos os olhos no chão ao pé dos nossos ossos. Descobrimos que afinal temos fé e queremos acreditar...O medo arrepia-nos e incrivelmente tudo nos mete medo...até a pequenez da nossa sombra. Paralisamos quase sempre. Damos um passo atrás onde o chão estava seguro. O desconhecido causa ansiedade e já não desejamos mais surpresas...O nosso sorriso é puro...porque é raro. É quase uma joia preciosa que só brilha lá no fundo quando ninguém a vê. Temos medo que alguém leve o nosso sorriso outra vez e o abandone bem longe de nós...Disfarçamos as nossas riquezas atrás das lágrimas e semblantes tristes ..baixamos as bocas em sinal de respeito pelos sorrisos que já nos foram roubados. O Amor foge...Como a nossa boca por vezes já nem sabe o que fazer...bocejamos aborrecidos e apáticos mordendo os lábios até sangrar para a saliva recuperar uma percentagem do seu gosto. O Amor quando chora põe os olhos na Morte e sente-a por perto quando se desfaz em lágrimas e ninguém o escuta. Estende a mão e ela volta vazia. Aqui descobrimos que somos mortais e que deuses são os outros...a felicidade foge se não a agarrarmos com força sem a pouparmos da liberdade. É a mais incrível descoberta...não queremos morrer sozinhos...