ECO SEM PALAVRAS
Subitamente o teu rosto me vem à tona. Regresso onde nos perdemos. Uma curva de estrada apertada. Pinheiros altos virados para o céu, ouve-se ao longe uma corrente de água. Forte. Sei que será fria como frias serão todas as águas que não conheceram a tua pele. Quase te ouço chamar-me. Como um sorriso que a boca força e o corpo não reconhece. Depois da curva uma reta a cortar o mato. Nem uma nesga de sombra. Apenas uma luz intensa a queimar os olhos. A pele. O caminho. Disto somos feitos. Para isto criamos o mundo. E fechar os olhos parece-me a melhor forma de sentir vida que para mim é você. Dai-me outro coração mais alegre. Com janelas abertas voltadas para os mares do norte. Com montanhas altíssimas. Desertos imensos e a tua voz. Como um eco sem palavras. A cobrir de silêncio o peito. Bate-me um coração que já não me pertence. Em coordenadas que os ossos não sustentam. O corpo cai. O corpo vai. O corpo fica. Para sempre. Como uma curva de estrada aonde o teu não regressa. Invoco o teu nome como anunciação de estações alegres e ninguém diz. Ninguém explica. Esta tristeza. Este vazio. Este não estar onde. Não saber o que. Porquê. Como nada, que o tempo corra, tão depressa que nem sinto. Que te traga como raio de luz assim forte, que me cegue. Que a tristeza só exista para mim. E estas dores que não passam, este amor que ainda vive, este não ser feliz. Outro mundo foi nosso. Quando fechava os olhos teu semblante me aparecia. E eu a pedir-te: diz-me uma coisa bonita. Não sei se haverá coisas bonitas a dizer. E se houvesse não sei se saberia dar-lhes sentido.