Aquela Pessoa
Sou bem segura em relação ao que quero. Sei exatamente onde desejo chegar e o que devo fazer para concretizar tal desejo. Conheço meus sonhos, meus gostos e desgostos, conheço minhas falhas, conheço minhas verdades e mentiras. Conheço quem sou, onde estou e quem está aqui comigo. Sei que o mundo não é um conto de fadas, que a realidade e dura e só crianças podem se dar o luxo de viver num sonho. Na vida, sou aquela pessoa quieta, que passa despercebida muitas vezes, mas faz presença quando desnecessário. Sou aquela pessoa que depende da aprovação alheia e entra em pânico quando não a possui. Sou aquela pessoa que vive frustrada com o que faz, que não sabe o que faz, que não sabe o que fazer. Sou aquela pessoa que vive no quarto, sozinha, desejando poder apagar a própria existência do mapa. Eu sou aquela pessoa que vive com o nariz num livro, e que teve a sorte de nascer gostando da escola. Sou aquela pessoa que vive por nota, aquela pessoa que só consegue aprovação com nota, aquela pessoa que não conhece o amor. Aquela pessoa que tenta ser vista, mas que repele todas as lupas de exploradores. Aquela pessoa com medo de ser rejeitada, aquela pessoa moldável, que faz o que os outros querem só para fazer parte de um grupo. Aquela pessoa que não faz parte de grupo nenhum. Sou aquela pessoa que vive cercada por pessoas, a todo tempo, mas que é sozinha. Aquela pessoa que quase todos sabem o nome, mas só a chamam quando precisam, quando é necessário. Aquela pessoa completamente dependente da escola, aquela pessoa que não vive nas férias, aquela pessoa que sente gosto pelo estudo, pelo conhecimento. Sou aquela criança estranha, aquele menino gordinho de óculos, aquela morena com aparelho nos dentes, aquela pessoa que não sabe o que fazer. Sou aquela pessoa que não consegue contar nos dedos a quantidade de elogios que recebe, aquela pessoa que ouve “o quanto eu não pagava para ter um filho como você”, e deveria encher o peito de orgulho ao se olhar no espelho. Sou aquela pessoa que chora no banho, que vive se culpando pela desgraça do mundo, que se vê do tamanho que se enxerga, que sobrevive sem viver. Sou aquele típico adolescente, sou aquela pessoa sem nada de especial, sou aquela pessoa que deveria tomar vergonha na cara, aquela pessoa que precisa “tomar um sacode e parar de drama”. Sou aquela pessoa perdida no mundo, sem ter para onde ir, mas sem coragem para voltar.