No fundo do baú

Folhas amareladas pelo tempo. Cadernos. Rascunhos. Tesouros abandonados. Feito cômodos inabitados de uma casa grande demais. Essa mania tola de reter o tempo. Cultivar memórias, mas… Para quê se elas não terão frutos? Certo que há o encanto da surpresa. Descoberta do que há tempos se escondia nos guardados. A pergunta que inquieta, se tanto lutei para deixar outras vidas para trás, por que conservar os mapas que me levam de volta para elas? Talvez para dimensionar o tanto que cresci. Por outro lado, como evitar o susto de perceber que ainda há muito do que acreditei deixar no passado, aqui, no presente? No fundo, além de toda dor, ainda encontro uma beleza. É uma face boa de enxergar a minha história sem as lentes embaçadas de lágrimas. De tudo isso, a verdade que ilustra a realidade é o apego. Já consegui me desfazer de muito lixo acumulado. Minhas poesias, minhas vidas, minhas memórias ainda insisto em guardar. Se são realmente tesouros não sei dizer. São partes de mim que ainda não me sinto pronta para entregar ao fogo que tudo transmuta.

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 13/06/2023
Código do texto: T7812607
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