Fragmentos

Tenho andado por aí tão só. Tão somente vivendo dia após dia na minha própria companhia. E nos meus passos vou conversando comigo. Buscando respostas. Será que minha missão por aqui não seria inversa, ter que aprender a ser sozinha? Exercitar a paciência e tolerância com meus próprios defeitos e virtudes? Seria essa solidão um fruto do meu egoísmo? Será que fiquei egocêntrica sem perceber? Fato é que desconheço as nuances da falsidade, as estratégias do intrincado jogo de interesses que move esse mundo, não consigo ser nada além de mim mesma. Domino a arte da autenticidade. Certo é que já não sei me encolher pra caber num lugar que não é meu. Não sei fingir o que não sinto só pra ter por perto alguém que possa me ser útil no futuro. Já sei dizer não. Impor meus limites. E se o outro me renega por conta disso o problema não é meu. Estendo minha mão a quem precisar. Só não dou o meu braço! Espalho sorrisos sem observar os rostos. Sou míope. Muitas vezes não enxergo a quem estou levando um pouco de amor. E isso não me importa! Sigo meu coração. E tenho a minha própria lei. Lógico que tudo isso demandou muito tempo, muita energia, noites de insônia, anos de terapia. Já me anulei por amor, me fiz de idiota pra não brigar, aceitei culpas que não eram minhas, sucumbi ao medo de estar assim, como agora. Sozinha. E hoje eu ainda sofro. Tenho saudades da família, de "casa", da rotina de um casamento, da vida estável. Mas por outro lado eu sou responsável e segura de conviver com as consequências das escolhas que fiz. Hoje não deixo lacunas, nem espaços vazios. Onde quer que eu esteja sempre estarei inteira. Onde meu coração não encontra paz eu não farei nenhum esforço pra estar. Me guio pelo meu prazer, pela minha felicidade. Talvez sim, a vida tenha me derrubado tanto que fiquei egoísta. Ou talvez não, posso ter desenvolvido um amor próprio enorme. Sim. Pode ser que de tanto lutar pra aprender a viver na minha própria companhia eu já não consiga abrir as portas do meu vasto mundo interior a qualquer um. E se o preço for seguir só, eu prefiro assim. Estar na minha casinha, no meu conforto ao invés de estar num lugar cheio de "amigos" que preencham um vazio que não se acaba. Porque quem não se basta estará sempre só. Ainda que cercado por uma multidão. Estar solteira, vivendo meu segundo dia dos namorados assim, não é só um estado civil. É um ato de coragem, de me reinventar sempre, me redescobrir, de abrir mão de uma linda estória de amor pra me fazer plena. Pra ser assim, autenticamente eu. Me desejo feliz dia dos namorados, já que eu me paquerei a vida inteira e hoje me conquisto um pouco mais todos os dias. E se, um novo amor surgir nesses descaminhos todos, que seja pra me acolher com toda essa confusão!

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 12/06/2023
Código do texto: T7811636
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