ANCORADOUROS

Estamos à conta e ordem da finitude. Nunca se sabe quando ela se fará presente. O plano terreno é uma passagem. Precisamos exercitar o conviver. Tolerância, paciência e boa dose de resiliência fazem parte desta aprendizagem para dar polimento ao individual.

Não devemos conceder que o cumprimento do itinerário faça com que a saudade cumpra seus inexoráveis efeitos sobre nossa alegria de viver.

Temos de ser avaros para com a afetividade, porém cautelosos na vida do outro, o abraço amigo de hora incerta, que mudou de pouso e anda ausente. Por nós e por ele.

Busquemo-nos com prudência e vontade, para que o porto seja mais seguro, permitindo um melhor coexistir. Cuidemos disso, é importante para a convivência.

Aproveitemos cada minuto para plantar sementes de bom convívio e cuidar da germinação dos raminhos de afeto. Lembremos que eles proporcionam momentos de alegria, prazer e gozo.

O transcurso da trajetória pessoal não se alterará em muito, todavia, as interferências na qualidade de vida poderão ajudar fortemente a minimizar os efeitos do tempo. Este, acaso não tenhamos cuidados, corrói as dobradiças dos portais de convívio e consome as oportunidades para viver melhor e ser feliz.

O estar no mundo sem que se possa sentir a felicidade, pode, sim, afetar o resultado e a amplitude do foco de luz e de amor ao semelhante quanto a esse cuidar de si e dos afetos, já que o tempo nem sempre permite que continuemos únicos.

Até porque, ainda que reunidos para a jornada de convivência, ao perpassar dos ventos e chuvas sobre o abismo, a sombra e o desconhecido que nos habita, em verdade nos fazem quando muito, soberanos do Nada.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2023. Versão II, revisada.

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