Despedida
No calendário marcava 29 de Outubro e mais uma vez ela estava sempre pronta pra me escutar. Ela sabia, como ninguém escutar meus desabafos enquanto apreciávamos aquele rascante e amargo vonho que apenas servia para tornar minhas madrugadas mais longas e amenizar minha dor constante.
Naquele mesmo bar de sempre, na última mesa do lado esquerdo. Parecia superstição mas era ali, naquele lugar que existia um velha janela, com cortinas que no passado pareciam ser de seda mas que agora são apenas remendos velhos e amarelos que dava para apreciar perfeitamente a luz da lua e sentir o carinho que o vento fazia em meu rosto enquanto bagunçava meu cabelo. Eu me atrasei mas ela já estava ali me esperando. Como era de se esperar, ela não reclamo de mais um dos meus atrasos muito menos do cheiro de perfume barato que me acompanhára desde o meu encontro com aquela bela morena de olhos verdes que se perdia naquela esquina escura e fria.
Sento e espero a gentileza do garçom vir e me perguntar o que desejo. Mas acho que ele até já sabe pos o vejo chegando a minha mesa com aquele vinho barato e amargo que no inicio te satisfaz mas depois faz você dizer que nunca mais irá beber. Como já era de se esperar, aquele velho garçom de cabelos grisalhos e uniforme surrado esqueceu o copo dela e eu tive que perguntar dessa vez o porque dele sempre trazer apenas uma taça se na verdade são duas. Seria porque ele adorava me ver nervoso? Não, talvez ele se divertia com tal situação ou será que ele já estava velho o suficiente pra trabalhar? Mas, ele não me respondeu, pediu desculpas como sempre disse que aquilo não iria mais se repetir e se retirou. Mas dessa vez eu fui mais rapido, e ele não conseguiu se retirar tão rapidamente como de costume; segurei-o pelo braço, dava pra perceber o espanto das pessoas que certamente pensavam se um jovem como eu brigaria com aquele pobre velho, já outras pessoas se levantavam para ir embora outras para acudir o velho pensando num possivel "confronto". Olhei para o velho dei um leve sorriso isso certaente o acalmou tanto que ele virou para as pessoas e fez um gesto de: tudo bem, eu vou ficar bem. Depois do susto eu só quis alertá-lo para eu não se preocupar pois aquela era minha ultima vez naquele bar.
Ajeitei minha busa e voltei para a mesa; enquanto servia-nos eu a olhava e notava a sua expressão de calma, sem se preocupar com tal situação. Peguei minha taça coloquei-a no alto e fiz um brinde a mais uma noite que estávamos ali, juntos. Levei a taça a boca e percebi que o gosto daquele vinho já se tornava agradável diferente das outras vezes.
Respirei fundo, olhei para ela e disse o que parecia ser a mais simples e dolorosa despedia: "adeus." Mas o que mais me incomodava era que eu não sentia nenhuma pena por ter sido tão frio e direto com ela muito pelo contrário eu me sentia livre e feliz tanto que comecei a gargalhar e mais uma vez todo o bar voltou sua atenção para mim.
E claro, eu esperava alguma resposta dela já que mesmo depois de tudo, ela sempre me entendeu, me escutou durante tanto tempo, foi minha principal companhia, me perdoava pelo meu jeito tão disperso e louco, pelos meus atrasos e traições; mas não, ela se manteve calada e indiferente. Eu compreendi, o silêncio é a pior resposta que alguém pode receber. Eu tirei o dinheiro coloquei-o de leve na mesa me levantei, coloquei a cadeira no lugar e comecei a caminhar até a saída mas algo me fez parar então, olhei para trás respirei mais uma vez e
disse: "Outubro me proporcionou uma das melhores coisas da minha vida, ela chegou, acho que encontrei o meu caminho, vou arriscar sem medo de me precipitar por isso, adeus Solidão!"