AGONIZANDO NA NAVE DA XUXA"

Quando a Nave da Xuxa estacionou em minha porta... A Xuxa já não estava mais lá.

Ela estava morta há muitos anos, e eu estava idoso, senil, chapado de medicamentos e quase morrendo. Não havia motivo (e nem gente interessada) em me manter à distancia de entorpecente; se importar se eu estava acordado, sóbrio, ativo... opinando.

 

Eu simplesmente existia e ainda queria muito entrar na nave rosa, toda enferrujada, as letras amarelas quase ilegíveis, apagadas, luzes queimadas... Lâmpadas falando. Me lembrou uma Kombi velha...

Lá dentro, encontrei vários esqueletos espalhados pelos cômodos da nave. A caveira da Xuxa – obviamente – estava lá; Ao seu lado, jaziam caveiras de outros grandes ídolos da minha infância a adolescência, como Steven Tyler, Stephen King, Rita "Linda", Cazuza, Ozzy, Hebe Camargo, Jorge Mautner, Chico Anysio, comediantes de Stand Up, Caetano, Bell do Chiclete, Maysa e João Gilberto...

 

E também tinham maquetes não terminadas, planos do Cebolinha expostos em mesas empoeiradas, brinquedos de LEGO. Eram maquetes de lugares onde morei, computadores antigos que tive, celulares ultrapassados mostrando meus contatos, embalagens de minhas comidas preferidas, vales-transporte, cartões de ônibus, entradas de cinema, contas de restaurantes, blocos de notas, cadernos, DVDs, VHS de filmes de horror entre velhos romances... Lidos, Lidos de novo, e também escritos. Lidos, Lidos de novo, e também escritos.

 

O pior de todos, e o único que estava ainda VIVO e se de atendimento, agonizando, era o meu amor.

 

Meu amor era justamente o controlador de vôo, lilás e ao mesmo tempo, todo revestido com pelúcia roxa. Exalando por toda nave da Xuxa, um aroma de Flores do Campo...

 

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 08/06/2023
Código do texto: T7808997
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