CANTADOR FORA DE HORA (prosa poética)

Ele gritou, duas, três, quatro vezes: “Bom dia! Sálvio Sérgio.”

No meio do terreiro, emplumado de peito aberto, pensando ser belo como pavão na passarela do samba em dia de desfile. Até canta bonito e feliz.

É o alvorecer de outono indo e de inverno chegando...

O ar? geladinho, geladinho!

O amanhecer? pedia cama e a cama por mim implorava.

Então, balbucie com carinho:

— Preta, minha linda! Um só favor, “tá” bom?

— O quê? — respondeu aquela vontade de permanecer grudada na minha costela quentinha de verão eterno.

— Vá ao terreiro e derruba da cerca aquele garnisé sem tamanho, que mal dá conta das galinhas e fica cantando de carijó pedrês pensando que é um forte guerreiro guarani.

Ela não foi...

Não me obedeceu...

Senti-me um galo sem autoridade...

Porém...

Como prêmio, abraçou-me tão gostoso, aumentando a temperatura sob os cobertores, inclusive a do ar rodeando que foi ficando quentinho, quentinho.

Decidi:

“Que ele cante seus bons-dias! a manhã toda. Que espalhe com seu canto o meu Bom-dia para todos do Universo, também”

E ouvindo o canto no terreiro, eu e ela vamos compondo, sob as cobertas, uma bela sinfonia.

Arabutã Campos
Enviado por Arabutã Campos em 06/06/2023
Código do texto: T7806982
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