Menina má
Eu não sou, nem um pouco, uma boa menina. Por mais que tente. E posso jurar, eu tento! Mas então, eu vejo espíritos, e posso conversar com eles, eu vejo monstros, e gosto deles, assim como eu gosto de sangue, do medo, do escuro, do oculto, da morte.
Dizem que nascemos todos inocentes e somos corrompidos pelo mundo à nossa volta. Sobre isso, realmente, eu tenho as minhas dúvidas. Ao menos que, para mim, as influências tenham sido extremamente subliminares, em dimensões de suprema sutilidade. Entretanto, agora o que adianta? O mal já está arraigado. Sou de toda má, corpo e mente. Alma e carne. Eu não nasci para ser boa, e eu até gosto disso, ao menos não preciso aturar certas mediocridades.
Por mais que eu saiba de tudo isso, aliás, tenha convicção, médicos insistem, dizem que o prazer em fazer o mal é, supostamente, uma predisposição genética, ou influência de um ambiente hostil, ou talvez, uma provável lesão cerebral. No entanto, nenhuma das situações cabe para mim. Minha família é perfeita. Meu pai, ex-padre, minha mãe, moça que se casou virgem. Minha casa é bonita, tem um belo jardim, e nunca sofri nenhuma queda, nenhuma decepção.
Sabe, no fundo, creio que tudo isso, se trata apenas de suposições, com receios de que possa abalar a fé em seu Deus, pois não é tão difícil de entender, isso é apenas o comportamento humano. Somos mal. E pode até me criticar, mas tenha certeza, você não é tão bom quanto pensa.