[Janeiros: A Mágoa de Partir]
Dia Primeiro de Janeiro,
para mim, diante dos meus olhos,
é o dia em que as formigas cortadeiras
sobem pelos verdolengos talos compridos,
cortam as flores brancas do meu jardim,
derrubam-nas no chão, tontas, morrentes, mortas...
Queria não ver essas águas brabas,
queria não rodasse a minha cabeça nas enchentes
de algum janeiro inexorável... qual janeiro...
Minha cabeça sonhadora é louca;
devaneia fumos de queimadas distantes,
ligeiras nuvens sobre os cerrados,
frescor das águas, veredas dos buritis...
E se cortada, destino inevitável,
eu gostaria de cerrar os olhos na boca do inverno,
mais precisamente, às cinco da manhã de 20 de junho...
[Última cartada:
e se um pacto solerte,
feito numa noite sem lua,
riscado com sangue, à ponta de faca,
impedisse o meu cavalo de seguir
pelos campos de Minas, com a sela vazia?]
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[Penas do Desterro, 16 de dezembro de 2007]