Nada Escapa
No meio de tantas coisas que me perseguem,
encontro uma pessoa que carrega consigo
o peso de um princípio falso, de uma lágrima
já seca pelo calor das próprias falhas.
Mesmo assim, essa mesmíssima pessoa insiste
em fingir as dores da cicatriz que não existe.
Uma dor autoinfligida que só serve para amenizar
a dor verdadeira dos prazos, do fazer e dos afazeres.
Está prestes a ser eliminada. Desligada da vida
que um dia pleiteou como sua, como algo garantido,
predestinada àqueles que seguissem o roteiro.
Não há roteiro algum, apenas o cansaço e seus filhos.
Sendo obra do cansaço, o que sobrará no mundo
além de pessoas sujeitas à duas gravidades:
aquela física, razão dos nossos esqueletos;
e aquela existencial, que inclina nossos ombros?
Ninguém vê, mas há um diabo pendurado no ombro
de todos os coitados que tragam oxigênio
após um suspiro de final de tarde. E como pesam...
quem sabe eles estejam certos em nos torturar.
Somos os verdadeiros parasitas, inconformados
com a conformidade que não convém. Para o resto,
somos amabilíssimos. Capazes de suportar doses
cavalares de hipocrisia e a contradição do mundo.
Mas, pouco me importa o mundo, inexistente, fora de mim.
O fim dos tempos é a minha morte, o mundo se acaba aí.
Mesmo assim, fingimos que nada nos tira o sorriso
falso e perecível, como tudo. Nada escapa.