O motivo condutor de uma ópera
De modo tétrico, aquela música insiste em minha cabeça... E aquela dor no peito, também.
Uma anormal intensidade dramática, tudo ali se faz por meio da exacerbação – exacerbação vocabular, antes de tudo. É o sofrimento, a autoflagelação. Isso aumenta o desespero e dá audiência, o público ovaciona, delira. Vamos com a loucura colaborar!
No início, uma parede invisível entre nós quis derruir, porém, precisaria de muito esforço e apenas rachaduras lhe causariam. E agora, reabrindo feridas, um buraco negro exposto, não precisa de código Morse, é bem visível. Além disso, se tocar, inúmeras cicatrizes irá sentir. Eu escrevi aquilo com o sangue dela em minhas mãos, sentia meu poder mais forte, uma corrente elétrica, o leitmotiv, contudo, apenas canalizado nela.
Mas segui, separando labirintos num precipício, carregando na bolsa um pouco de plutônio, sentindo o corpo congelar, matéria macia virando chumbo, e a lembrança da doçura... Nesse momento, o fantasma de um sorriso tocava-me os lábios.
Querida, você sempre estará dentro de mim, é como o fantasma da ópera, meu anjo da música. Mas siga teu caminho, largue os mortos onde eles devem ficar. E para que saiba, eu permanecerei lá, na mais esquecida e fantasmagórica sepultura, se, por ventura, algum dia ainda desejar me visitar.