ESCREVER É AMAR-SE NO OUTRO
Quem não transgrediu na vida real saberá como transfixar o Novo tendo como suporte a invenção, a mentira, a farsa, a fantasia, o sonho?
Obterá a necessária coragem para encarar o enfrentamento e a antítese que exsurgiu de sua criação? E como tratará a síntese advinda do processo axiológico e seus possíveis efeitos?
Entre o espanto, o riso e o estupor do mundo real haverá um novo itinerário de questionamentos. Entendo ser este um precioso caminho para o efetivo registro daquilo que deixamos aos expectantes.
Sem sabermos qual será o destinatário, teremos como aproveitar a fixação do que vai na concepção alheia, no polo eventual que se apossa do que escrevemos?
O semelhante dará guarida ao que está proposto em nossa mensagem à busca da felicidade pessoal?
Ou até mesmo o hermetismo da codificação textual afastará o receptor da palavra e teremos de nos contentar com a possibilidade de impotência da inventiva frente à realidade?
É no ninho receptor que são depositados os ovos fecundados do pássaro Dúvida. E este é um estranho bichinho alado que tem imprevisível ciclo de gestação. A rigor, nunca se sabe em quanto tempo ocorrerá a completude da nidificação poética para que a palavra venha a nascer em segurança.
Junte-se a isso a possibilidade de que efetivamente tenha acontecido o nascimento com vida e o compreensível acréscimo dos filhotes com suas rarefeitas plumagens ao mundo dos fatos.
Aguardemos, pois, os pipilos, chilros, chilreios, trinados ou gorjeios sucessivos. Por certo que o som dos signos reinará absoluto nos portais dos templos e mausoléus.
E a palavra viva dirá da Esperança e do coração aflito.
MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2023.
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