A VIDA NO PONTO

Escrever o que é tácito, o que é grito contido. Ecoar através dos caracteres aquilo que fica sufocado no peito e nas ideias. Fazer fremir o que permanece pausado no campo (nem sempre visitado) das ousadias. Colorir em tons quentes o que parece frio na avenida dos impedidos. Pôr os pingos nos “is”, colocar as vírgulas nos becos onde a pressa cria desordem e pede passagem. Ordenar as margens para que os recomeços façam sentido. Abrir espaço às interrogações, mas nunca esquecer dos pontos finais. Abrir aspas para não causar confusões desnecessárias. Não ultrapassar o travessão da fala alheia. Aprender a ler o que guardam as entrelinhas. Saber quando é importante fazer-se reticente. Deixar legível aquilo que nem sempre será lembrado. Imprimir no mundo o bem que se transforma em oração. E nunca perder a capacidade de ser o êxtase de um momento exclamativo. Então, com os devidos pontos no lugar, viver a vida escrita, descrita, lida. Lidar com os pontos das feridas. Inscrever-se na existência e brilhar.