Anoiteceu
No cair da tarde às vezes a solidão parece apunhalar as costas do horizonte; E ele fica sangrando em restos de sol. Atordoado, então puxa curativos de escuro para cobrir a ferida de tristeza e depois, calmamente adormece ouvindo estrelas.
Da janela vejo as luzes nascendo de um parto silencioso; E enfileiradas como num berçário suspenso, exibem a nudez em claridades denunciando as ruas em seus segredos.
Misteriosas são as lonjuras da noite encerradas nas molduras invisíveis do universo.
Pessoas caminham e no relógio os ponteiros demarcam números em circunferência. O tempo é olho gigante e vigilante de todas as mudanças.
Logo virá a madrugada e as canções que a brisa compõe ficam ébrias, desenhadas na imaginária partitura das boemias.
Já viajei em inspirações e sinto o cheiro da pele suave após o banho. Vou para o quarto.
E então das poesias que escorrem pelas frestas do silêncio, a mais bonita é o teu olhar, que tal qual um luar cheio desponta lentamente, trazendo junto um sorriso que cola nos meus lábios na doce ternura de um beijo.