A súplica
Na verdade, percebo que, apesar de meus esforços infindáveis, tornei-me o que há de pior em meus pais.
A existência se tornou manca e tacanha, comunico-me senão por uma encenação mesquinha, os outros fazem o mesmo. É como se eu vivesse em um eterno filme pornográfico, mas sem gozo algum. Deito-me no sofá, pego o celular e se passaram 6 horas, nada fiz, nada sou. Escuto música mas a música morreu para mim, vejo arte mas a arte morreu para mim, eu beijo mas os lábios que tocam os meus perdem o sentido, logo percebo: nada no mundo pode preencher o sentimento de vazio que aos poucos se apossa de mim. A droga, o amor ou o conhecimento, de que essas coisas me importam se aos poucos nadifico-me?
Sou nulidade, o número zero, menos que homem e menos que rato, eu rio, vivo como um cão, morrerei como um. As coisas que deveriam importar murcharam, minhas preces a Deus não são atendidas, minhas preces a Satã não são atendidas, me vejo órfão de céu e de inferno, tudo é súplica. As lágrimas que descem ardem sobre minhas bochechas e rasgam a minha mandíbula, com os músculos da face expostos e impossibilitado de fechar a boca eu babo até morrer de desidratação, tudo isso gera um riso, um riso silencioso, um riso de si, um riso de desespero.
Esse texto documenta a súplica de um homem que chegou ao extremo do possível, solicito tudo o que um homem risonho pode receber de ruim. Se a morte pode ser vivida através da linguagem, é isso o que essas palavras transmitem. A luz da tela do computador derrete meus olhos, os filmes kitsch repetem-se em fitas na minha nuca, nunca mais serei feliz.