Asas
Ela, tão sonhadora, ganhou asas para sonhar cada vez mais alto. Amava a liberdade que suas asas lhe davam, como era fascinante elas serem capazes de carregar todo o seu peso - ah, e como era pesada! Ela tinha o peso do mundo em sua cabeça, mas a natureza, sempre fantástica, fazia parecer tudo leve quando ela estava no alto.
Voava sempre de noite, pois assim conseguia alcançar as estrelas e a lua, se sentia protegida de toda a exposição que a luz do sol proporcionava. Ela amava ficar escondidinha, protegida pelo negro da noite, tendo somente a luz do luar e das estrelas para iluminar seus vôos.
No alto, ela sentia que era mais leve, que sua cabeça não pesava tanto, que seus sonhos eram mais coloridos, que sua vida era mais tranquila. Quanto mais alto ela ia, mais alto ela queria voar, mais longe ela queria ficar de tudo o que a fazia ser tão pesada.
Via na noite, uma companhia leal, uma ouvinte solidária e gentil. Já o dia, era um acusador hostil, não tinha piedade e nem empatia para lidar com toda a sua dor. Se tornava reclusa até as estrelas aparecerem novamente e se sentir em segurança, coberta pelo breu noturno.
Um dia, cansada de ter que lidar com o dia, voou o mais alto que pode, se agarrou a uma estrela e decidiu não retornar quando o dia raiasse. Ficaria abrigada em quem tão bem fazia a ela, estava certa disso...
Quando o dia raiou, ela foi arremassada para longe da estrela que abraçava, pois essa era a hora em que elas saiam para dar lugar ao que o dia proporcionava. Ela foi caindo, caindo e caindo, mas manteve suas asas fechadas e deixou a gravidade agir. Se recusava a voar durante o dia. Enquanto caia, aproveitava o vento em seus cabelos, a velocidade cada vez maior... Teve um último sonho e uma estrela se tornou.