Até um Buda Pensaria
Eu ia pela rua, quando a vi.
Ela ria sonoramente, o sorriso vasto, o pudor nenhum das que nunca são impudicas.
Tinha um quê de mulher que ainda não deixou a menina, imprecisão num descuido impercebida.
Do perfume não falo, não falo do andar felino, não falo dos dedos desenhados, nem de outras coisas mais: não se trata da carne, posto que carne reconhece carne - e que carne teria eu por debaixo dessas olheiras que vasculham as sombras no horizonte estreito do meu quarto?
Falo de outra coisa, uma mais enroscada. De algo que até mesmo um Buda pensaria; sobre uma coisa com um nó de vergonha e remorso, sobre o mundo que gira, o tempo que passa, sobre, céus!, estar aqui, do lado de fora, com um frio peculiar, olhando abobado quem ainda está lá do lado de dentro, aconchegado em lençóis mornos, e nem percebe a inveja que causa.