Perseguição
Você já foi perseguido por um nome?
Eu já. Nome bonito, dono de significados abstratos e signos simples. Deitava minha cabeça em meu travesseiro e lá estava ele: pronto para roubar meu sono e engendrar pelos meus sonhos insones. Fugi do nome o quanto pude, de sua sonoridade de mulher e do seu cheiro almíscar. O nome me perseguiu nos almoços à mesa e nas ruas movimentadas. Quanto mais o evitava mais ele estava insistentemente presente em mim. E quando eu achava que estava liberta da perseguição o nome aparecia nos lábios dos meus amigos em uma conversa morna de fim de tarde.
Às vezes o nome vinha acompanhado de formas sinuosas e pele macia. Outras vezes o nome pulava das páginas dos romances estrambóticos que pouco deviam recorda-lo.
Em noites excepcionais o nome já estava lá, junto a uma garrafa de vinho.
Um nome roubou meu sono, minha fome e meu gozo.
Mas antes disso eu que perseguia o nome.
Eu enveredei em sua busca, tomei caminhos tortuosos e tentei captura-lo em engenhos mirabolantes.
Queria poder pronunciá-lo escorrendo como mel em minha boca. Queria tê-lo ao alcance e ao cotidiano da língua, aplicá-lo ao meu vocabulário e eternizá-lo em minha biografia.
Mas o nome não predispunha de classificação, palavra que me fugia na ponta da língua.
Libertei o nome sem pensar que seria sua vítima.
Três sílabas que ocuparam todos os espaços do céu da minha boca, todos os cômodos da minha casa e cada rua dessa cidade em pedaços.