A culpa das promessas quebradas é do tempo
Queria ter minh'alma assoprada com o vento brando da fé dos que duvidam, para que o tempo se prendesse muito mais vagarosamente em mim ou que talvez nem se ativesse a essa camada de pelos brancos que decora a minha ainda suculenta carne. Desprendido de todo o furor dos dias, e com todas as cicatrizes das feridas da vida em aberto, purulando lentamente, como se tudo o que houvesse por curar aguardasse pacientemente ser curado, herdaria, mais por piedade que por merecimento, as amarras de tempo que me conviessem. Dos mares, tomaria as âncoras enferrujadas e cheias de cracas, mas ainda suficientemente pesadas; dos céus, as estrelas anãs e, por conseguinte, as meio mancas, cujos passos distraíssem toda e qualquer órbita; das terras, as noventaenovetopeias detidas na busca das centésimas patas, e as lesmas, sem pata alguma. Então, por ostentar tão imensurável bônus, eu amaria ainda mais o que já rotulasse aposentado como suficientemente amado: o todo amado e o cada pouco, as bocas inteiras e, também, as meias-bocas, coladas, enfim, aos beijos de um então quase sem fim. A voracidade do tempo sempre foi a maior inimiga das minhas promessas de eternitude. E se o que peço for tão pouco ou tão insano, que se me conceda o dobro ou mais um tanto.