Ruminâncias

Ninguém sabe por que me chamam Zebra… Sim, este animal que foi excluído do Jogo do Bicho que é inimigo dos apostadores! Nem eu mesmo o sei - será que é porque já nasci azarado?! Sonhei com o meu tio morto esta noite, que, dizem por aí, morreu de tomar cachaça… ou seria Covid? Eu que não duvido que foi de tanto álcool na veia - ele que vivia cheio de problema na vida; de quando em vez assaltava-lhe um infarto nada amigável como ressaca. Por que eu tô falando do meu tio? Não sei… Mas o fato é que morrer, assim de repente, é triste - mas de uma tristeza mórbida, deprimente, afinal, o cabra andava na flor da idade: quarenta e tantas tempestades com momentos raros de calmaria. Maria, minha tia, me contara, certo dia, que vivia a ponto de endoidecer por não saber mais lidar com o filho doente, da mãe demente, do marido ausente, da lida constante… e a dor de cortante decepando-lhe a cabeça, corpo e mente... constante! Ave-Maria, Mãe de Deus! A fé, fraca. Ela queria mesmo era um café forte nessas horas de desânimo e desolação. Por que Zebra? Na firma, na rua, na vida, é essa minha alcunha. Aqui no beco onde moro há uns rapazinhos, devem ter seus pobres trezes ou quinze anos. O de treze nunca ouviu falar de ironia ou qualquer figura de linguagem. Ironia é ele, nessas horas, com uma garrafinha de cola na mão - não, a garrafa de coca não continha a cola que você deve estar pensando. Passo por ele, alheio às desgraçadas da vida e à merda rala do cachorro à minha frente, ao passo que ele, sorridente - um sorriso encardido, é claro -, acena o meu vulgo, correndo através de mim qual um vulto, ao que eu me assusto e respondo, de súbito, com um aceno de cabeça. Minhas tristezas me rodeiam mesmo quando penso no amor, no sexo, sobretudo na pornografia. Minhas alegrias têm sido mais escassas que minhas… Cansei de palavras, dessas filosofias vagas! Vou beber… que é melhor do que pensar na vida.