Distância
Caramba, agora o tempo corre
corre, corre e também voa
queria eu ter longas pernas
ou ganhar asas para voar
ao tempo que não nos vemos
muito menos nos tocamos
nossos olhos não se olham
nossas bocas não se abrem
nossas mãos não se dão
e abraços, que pena, não há não
e tudo isto me dá saudades
pois entristece a minha alma
e aperta de dor meu coração...
Sabes, queria ter asas para voar
E fosse a distância qual fosse
Ao parapeito da tua janela ir parar
Bateria com o meu bico na vidraça
E quando a tua janela abrisses
Aconteceria como num conto de fadas
Eu em mim, me transformaria
E tu decerto, não me negarias
O podermos estar juntos e falar
Subirias para o telhado da tua casa
Nossos olhos não se deixariam de olhar
E num segundo, nossos corpos se uniriam
Nossas mãos unidas, e bem apertadas
Acabariam por se largar, para acarinhar
Nossos rostos e dar liberdade aos braços
Para nossos corpos podermos abraçar
sentirmos nossas almas se cativarem
ouvirmos os nossos corações ás gargalhadas
de estarmos juntos, de nos podermos ver
e atabalhoadamente falar sobre tudo
é que o tempo corre e até voa sem darmos conta
De repente, fez-se silencio, e vi-me a esvaecer
Teus olhos ficaram marejados e os meus também
O tempo foi curto, mas valeu o conto de fadas
Numa outra vida, virei morar ao lado da tua casa
E nas noites, com as estrelas como testemunhas,
Sentados, no passeio ou na velha calçada da rua
Quero estar mais tempo contigo, ouvir a tua risada
Das coisas parvas, malucas e loucas que te conto
E são tantas as tolices que até ri com gosto a Lua
Enquanto te vejo rir sem parar, e a roer as unhas
E quando for hora de tu entrares em tua casa
Eu fico cá fora á espera de te ver uma última vez
Através da vidraça aberta da tua janela iluminada
Para te dizer que a distancia nunca separa
Pelo contrário, aproxima quem é inerente
é só um obstáculo temporário porque moramos
no coração um do outro e nossas almas são coniventes
e esta distância só me faz querer mais conto de fadas
e um céu repleto de estrelas, e com luar que nos une.