Liberdade

Sempre busquei a liberdade. Inicialmente queria ser livre para jogar handebol e vôlei a hora que dessa vontade, tomar banho de chuva, entrar no rio após o almoço, cavalgar e saltar as cancelas feitas de troncos de arvores, subir em arvores ... Tantas pequenas coisas infantis. Antigamente liberdade era sentar-se nas alturas das pedras, lá em cima do morro, e gritar: sou livre...Éramos livres.

Éramos livres quando tínhamos medo dos trovões, e nos escondíamos debaixo das cobertas. Éramos livres quando corríamos pelo campo serenado e enchíamos os pés de rosetas, erámos livres quando a bola caia no pátio do vizinho e, pulávamos o muro para buscá-la, sem medo de reações adversas. Sim, éramos livres quando sentávamos na soleira das janelas para observar, e contar estrelas. Até que um dia, olhamos noutro sentido, e deslumbramos a face da realidade, o pão da nossa fome não é tão santificado quanto inocentemente imaginávamos. Apendemos que liberdade em Latim, LIBER, “livre”, tem a mesma origem do Grego ELEÚTHEROS, também “livre”; que em eras mais remotas, a raiz da palavra tinha o possível significado de “nação, povo” e pode ter sido usada para designar “membro de povo não-escravizado”, em oposição aos que eram escravos.

Passamos a entender que a liberdade se desenvolve no alargar do tempo, como um vento que passa, e não se deixa aprisionar, é um ato volátil que quando olha para trás, anseia pelo amanhã. E como é doloroso pensar no amanhã tendo-se faces horrendas, companheiras ferinas do engano, segurando cortinas Blackout PVC para insatisfazer nossos tão singelos sonhos. Sorrateiramente os infames se apessoam, e tentam esmorecer nossa memória. Mas, como em a Elegia na Sombra somos Pessoas, e pesa em nós o passado e o futuro. Dorme em nós o presente. E se ao sonhar a alma encontra sempre o mesmo muro, ao acordar, resplandecem à distância, nossos heróis, luz para nossos passos, bandeira para nossas conquistas, substrato para nossas vitórias.

Mas que sentido é este, que glória maligna é essa, que do subterrâneo se compassa sob o olhar negro do manto, que de justo já é habito largo e fétido de loucas camarilhas, onde verdade e mentira se confundem, porque “coexistem memórias do olvido? ”

Acordai viventes, acordai enquanto o azul ainda exalta voos, e a flor da bondade é raiz de tesouros, prestes a serem saqueados.

Acordai, enquanto ainda somos livres para relembrar infâncias, e augurar amanheceres e quimeras.

Acordai que há muito nossa infância se fez longínqua, que a esperança ainda espera, e é abissal os sonhos de amanhã.

Denise Reis
Enviado por Denise Reis em 27/04/2023
Código do texto: T7774502
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