A POESIA DE UM NAMORO

Eu era adolescente. E perguntei a uma menina a quem eu queria:

- Quer ser minha namorada?

O que é o amor juvenil? Se me perguntassem naquela época, eu escreveria uns versos como resposta. Mas, hoje, aqui vai mas é a memória daquele amor. E veio o dia em que ela respondeu:

- Está bem, eu aceito ser sua namorada.

Porque ela tinha dito quando a pedi:

- Eu vou pensar.

Nunca me disse o que pensou. Mas, deve ter pensado. Porque demorou um pouco em responder. Hoje, sou eu quem me pego pensando nela. Bonita, ela era. Educada, ela era. Os pais dela se preocuparam em criá-la com atenção e carinho. Tinha estudo bom para a idade dela. Quando ela aceitou, eu escrevi uns versos para ela.

Porque negar, romântico eu sou até hoje. E nós dois namoramos um tempo razoavelmente longo. Sei lá porque um dia terminamos tudo. E ela era atraente. Os rapazes da minha idade, que moravam por ali, eu vi, estavam atentos. E ela apareceu com um namorado novo.

Eu soube mais tarde, de namorados ela teve só nós dois. E o tempo passou. Rapidamente. O namorado dela seguiu uma carreira profissional não muito simpática aos olhos de mim poeta. Ele se tornou soldado. Mas, a vida tem fatos que nos leva a perdoar coisas da própria vida. Porque eu também tinha sido soldado. Elas por elas.

Ela se casou com o segundo namorado. Meus ciúmes dela morreram quando lhe nasceu a primeira filha. No nascimento da segunda, eu já estava com aqueles amores por ela completamente arrefecidos.

Mas quem sou eu para saber segredos do amor? Ou segredos dos sentimentos de um namorado que se supunha esquecido. Eu seria o esquecido por ela.

Passaram-me alguns anos. Uma irmã minha se tornou cunhada dela, pois se casou com o irmão dela. Creio que o leitor entendeu o que temo possa causar confusão. Ela casada com o segundo amor, e minha irmã casada com o irmão dela.

Minha irmã teve uma filha mulher. Que cresceu, foi educada, estudou, e um dia se casou.

E eu fui convidado para o casamento de minha sobrinha.

Estava lá sentado a uma mesa, pensativo. Um pouco amuado, porque sempre achei estas festas um tanto monótonas. Monotonia se torna uma coisa cansativa.

Quando vejo uma figura de mulher se aproximar. Levanto os olhos e vejo claramente. É ela, aquela que foi minha namorada. E ela me diz:

- Sua irmã fala demais.

Eu me assusto. Ia perguntar a ela o que minha irmã falou. Mas ela se foi rapidamente. E não a vi mais na festa. Nem a vi outra vez, me antecipo em contar. Mas vou até onde está minha irmã. E lhe pergunto:

- O que você andou falando demais?

Minha irmã não pensou para me responder:

- Ora, ela está é querendo ouvir de você.

- Ouvir o que?

- Que você tem saudades dela até hoje.

Eu volto para minha mesa. E penso: "Mulheres!"

24/04/2023

Aristides Dornas Júnior
Enviado por Aristides Dornas Júnior em 24/04/2023
Reeditado em 24/04/2023
Código do texto: T7771762
Classificação de conteúdo: seguro