Afundada em mim!

Tenho saudades do meu corpo físico... Saudades dos meus braços fortes, que abarcavam tanto ao mesmo tempo, e ainda tinham força para virar a casa ao contrário, pegar no meu filho, cuidar dele e ainda brincar sem parar, sabendo que mais tinha para fazer com eles pela frente... Nunca se sentiam cansados, ou doridos... Assim era também com as minhas pernas, esticavam-se até sem medo e chegávamos rápido aos destino, podia dar passadas largas, e meus pés acompanhavam-nas com gosto, sem dor, sem ardência, sem ossos distorcidos e fosse o calçado que eu usasse não fazia diferença alguma... Antes a minha memória era de elefante, como se costumava dizer, hoje já não é assim... Hoje, esqueço com facilidade as coisas, o que leio nos livros, tendo que voltar a reler uma , duas vezes para algo assimilar , escrever num papel algo que vou precisar de fazer , puxar pela memória quando me quero lembrar bem de um lugar, para o passar para a tela, ouvir a música uma vez e outra, para me melhor lembrar quem a canta e qual foi o ano de lançamento... Talvez sejam coisas fúteis para alguns, mas para mim não, porque si como era e agora tenho tantas saudades , da memória fotográfica que tinha, e do que povoava o meu no cérebro tanto por dentro como por fora.

Sinto tantas, e tantas saudades daquela rapariga de outrora em relação á que sou agora... Sinto uma fúria tão grande, que até me dá uma fadiga intensa e que acaba por me deitar abaixo, tirando-me as forças, deixando-me abatida... Afundada em mim!

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 21/04/2023
Código do texto: T7769416
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