Não gastar os olhos em vão...
Sentei-me no degrau de cimento
sentindo a beleza de tudo ao redor...
e mergulhei nas letras do livro
que trazia outras paisagens...
outras paralelas realidades.
Eu era pequena e já amava os livros
que cheiravam tão bem...que descreviam tão bem
mundos que eu desconhecia...
e de repente, parecia, que deste mundo mesmo,
tudo eu já sabia...e nada mais precisava entender.
O que faltava mesmo, era penetrar em outros universos
que não machucavam, não feriam, e se acaso o fizessem
eram outras pessoas os alvos, como se fossem minhas réplicas...
que sempre se saíam bem de todos os desafios.
Ah...é muito difícil explicar, quanta força dá a palavra escrita.
E, enquanto vivemos as comédias e tragédias deste mundo,
supostamente real,
o subjacente mundo das letras, ilumina o caminho...
guia as veredas, mostra o quanto outros já caminharam
e todos os enigmas e soluções dos finais...
ou, na última página deixa mais interrogações que, no próximo livro
podem (ou não) ser respondidas....mas nos fazem prosseguir...
Muitos falam em ler o mundo...assim como se apresenta...
este mundo sem letras, feito de pessoas quase mecânicas
que se atiram aos fatos, sem prever o seu final, sem refletir...
Mas eu prefiro ler a letras...por saber bem lá no fundo de mim...
que a arte imita a vida e a vida....só existe para depois
se transformar em arte...
Sim, ler é vital...mas também, saber procurar os livros
onde estão as respostas...
Qualquer livro, não!...porque há muitos...e muitos...infinitos livros...
mas só alguns "nos chamam" e podem ser considerados nossos livros
quase como se fôssemos co-autores...
Assim, ler, é um constante desafio...uma constante procura
um garimpar constante...que, com o tempo se torna mais e mais refinado...
um rejeitar de obviedades, uma busca de significados...
e aos poucos, até uma necessidade premente de conservar os nossos olhos
para outras preciosas descobertas...
Surge então um novo mandamento, o do leitor convicto:
" o de não gastar seus olhos, em vão".