A Raposa e o Rouxinol
Vamos ficando lentos e o tempo acaba passando mais rápido diante de nossos olhos. E as estrelas cadentes vão riscando o céu com mais frequencia. E para navegarmos pelas procelas da vida vamos inventando um mundo só nosso, onde podemos rir, errar e reclamar sem que ninguém nos entenda. Já não queremos que nos entendam. Já nem temos esperança de encontrarmos essa completude edenica nesta vida. E começamos a conversar com nossos botões. E nossos botões nos respondem, as vezes, coisas ora terríveis, ora engraçadas, ora surpreendentes.
E para evitarmos quaisquer discussões apenas resmungamos, balbuciamos, sussurramos e tudo continua bem. Balbuciar é o malabarismo que aprendemos com o tempo de conseguir virar a mesa sem quebrar a louça. E contra toda a agressão verbal, o discurso demagogo, a acusação improcedente, a meta inalcançável, o incômodo imprevisto, balbuciamos.
O ato de balbuciar é o raio de sol que invade a cela escura, a solitária da alma, curativo apesar de incômodo, que nos impusiona a, pacientemente, esperar por um dia melhor amanhã. É o grito silencioso do animal acuado, prestes a reagir. Mas não hoje. Talvez amanhã...