Gest(ação) das lágrimas
Tentou evitar as lágrimas como uma gestante que tenta evitar a hora do parto para não sentir dor; mas era inútil relutar, a bolsa d'água rompeu por entre suas entranhas oculares, escorreu sem cessar, deixando apenas rastro de sal na própria face; esvaziou-se, abriu as comportas do ser...por muito tempo carregou a insuportável sensação de ter sido invadida de forma crucial, a ponto de contaminar suas águas pelas asperezas verbais. Decidida, virou essas tristes páginas.
Expurgou os letais que comprimiam seus átrios. Não carregava mais os pesos que não eram seus, não absorveu as injúrias que lhe eram proferidas e descabidas, pautadas em vil julgamento pelo seu modo de ser, não forçou ninguém a lhe enxergar, se enxergou!...ficou leve, respirou aliviada após tais atos; se reatou...totalmente preenchida de si mesma, vedou todas as lacunas, não havia mais espaço para o desamor.
Descobriu-se próprio AMOR.
Caminhava a solo em seu próprio solo.
Solidificou-se. Blindada, nenhum mal a atingiria mais, atracou-se em seu próprio cais.