Abrigo
Quando perdemos a crença no amor e nas relações, deixamos também de atordoar nossos corações.
Não caminhamos mais com os sentidos dormentes. Não é com tudo que a gente se ressente...
Sentimos tudo, só que de um jeito diferente.
A sensibilidade à flor da pele tem seus prós e contras:
Andar em carne viva, absorvendo tudo, não fecha a conta.... falta sentimento para nós mesmos.
Entretanto, não sentir nada é estar a esmo... não faz sentido para uma essência que interpreta tudo a partir das sensações. Se não despertadas, passam desapercebidas... não há projeções...
Como viver de forma tão paradoxal?... às vezes faz até mal... e quem virá nos socorrer se inúmeras vezes nos rotularam como " sentimentais demais"?... pobres letais!... será que querem mesmo "ajudar" ou julgar?...
Qual fosse um botão de rosa que se recusa a abrir no roseiral, assim eu tenho sido... e dizem que quero chamar atenção, de quem?... de gente sem coração?... eu acho que não!... gente sem noção, não os culpo... a sociedade exige que sejamos fortes e não sensíveis... e assim vamos estabelecendo distâncias, criamos nossas próprias barreiras de proteção.
Quando se tem um teto frágil demais, sempre a desmoronar sobre nossas cabeças, aprendemos a avaliar toda a "matéria prima" e o território, antes de erguer uma construção (desconstrução)... hoje em dia, onde eu me recolho, ninguém nem nada pode abalar as estruturas... no solo do meu coração ergui meu abrigo, fiz as pazes comigo... em detrimento das inúmeras vezes que amanheci ao relento... por não morar dentro; criei minha fortaleza... lugar onde dissipam-se vis incertezas, refúgio das maldades desse mundo frio e suas asperezas... lugar onde me torno inacessível... jamais insensível.