Sabores, Sons e Cores da Luzia

Pequenos prazeres... tão minúsculos.

Muitas vezes, passam despercebidos.

Como tesouros escondidos na simplicidade.

O céu azul é um mar sem fim,

o gramado verde um tapete de liberdade.

A terra vermelha é um manto acolhedor,

a montanha, uma fortaleza de majestade.

Como joias raras nas histórias escritas,

a morraria antiga guarda seus segredos.

Memórias dos tropeiros e seus carros de boi,

que atravessavam as bocainas com bravura e sem medo.

Carregavam feijão, arroz e farinha,

mas também esperança, coragem e determinação.

Enfrentavam obstáculos,

cheias e tempestades, para cumprir sua missão com devoção.

Com seus gritos de animais e ranger de rodas,

Cortavam caminhos em terras desconhecidas.

Deixando uma trilha de histórias e lendas, que perduram até hoje,

como sementes floridas.

Luzia do Retiro, lugar encantador!

Fundada pelo suor dos tropeiros,

Benzedeiras, netas de guatós, negros, poaieiros, com muito labor

Recebe o nome de uma ancestral: Dona Luzia,

que lavava a roupa no córrego, hoje adormecido,

interrompido pelas grandes fazendas.

Deixou suas memórias gravadas nas pedras que ainda estão ali, de pé.

Luzia, a guardiã silenciosa das histórias do passado,

que ainda sussurra em cada brisa e abraça os viajantes cansados.

Cheiro de terra úmida,

pés descalços afundando no macio barro,

orquestra de pássaros: vim-vim, bem-te-vi, arara azul e papagaios,

cantando em uníssono uma melodia de vida e alegria.

E assim, os pés de ipê, em cores diversas,

transformam a morraria em obra de arte, e suas flores,

como pinceladas imersas,

enchem de vida e beleza cada parte.

Luzia, cheia de aromas intensos,

o perfume do pequi,

a doçura da bocaúva,

a textura áspera da jaca,

o sabor exótico do murici.

Tudo misturado ao cheiro da terra molhada,

formando um retrato único, uma obra-prima divina criada.

Cestos e peneiras de buriti tecidos com carinho,

panelas de barro moldadas com maestria.

Comidas saborosas preparadas com esmero, tudo feito à mão, com amor e alegria.

Nas comunidades tradicionais, como Luzia,

a cultura popular é raiz.

Ela pulsa em cada canto, em cada gesto, em cada manifestação feliz.

O vento que sopra, leva e traz o sabor do barro,

da palha, do buriti, da tradição e do amor.

O canto dos mais velhos ecoa em cada lugar,

relembrando a história, o saber, o modo de amar.

E na melodia da viola de coxo, o coração se enche de emoção, ao sentir a força, a garra, a vibração da tradição