Sabores de vida
Num dia deste outono, nas minhas caminhadas matinais, me encontrei com uma amiga de tempos idos, a saudade. E foi aquela alegria. Depois das saudações, escolhemos um lugar para papearmos sobre o que fizemos, o que foi divertido, o que nos fez chorar, o que aprendemos, erramos e acertamos, lembramos de tudo e mais um pouco, sem traumas, apenas recordamos um tempo bem vivido. Naquele momento rimos, fizemos tranças nos cabelos, já brancos e sem laços de fitas, porém, o olhar para a vida continua iluminado, mesmo que o semblante esteja mais sisudo, realçando as rugas de preocupação com o ritmo das mudanças, algumas destas com sinais de involução social.
As lembranças de um passado não tão distante incluíram sentir o cheiro e os sabores de produtos naturais dos sítios dos familiares. A vida era mais simples, sem tantas competições, imitações e fingimentos dos tempos atuais. É fato que décadas atrás, se tinha menos opções de escolha, mesmo assim a vida era doce e a convivência saudável.
A amiga saudade também me fez lembrar do tempo em que respeitar a natureza era uma ação corriqueira, se colhia a fruta madura, degustava-e lambuzava-se embaixo das árvores e em seguida plantava-se o caroço, com a perspetiva de colher frutos num tempo futuro. O simples era bonito, a elegância estava na fineza do trato e na educação, está aprendida em casa e confirmada na escola. Nesse tempo de boas lembranças, discordar de pontos de vista era característica das pessoas sábias, assim como ser diferente era ser único na sua essência, sem imposições, regras ou (pre)conceitos.
Nessas horas a saudade confirmou que os tempos são outros, assim vamos fazer a nossa parte para que se possa conviver numa sociedade menos individualista.
Me despedi da saudade e me comprometi encontrá-la com mais frequência para saborearmos a vida sem medo da intolerância a glúten e a lactose, sentindo o sabor de leite fresco tomado no curral e do pão de ló feito com carinho de vó.
Ah, não se esqueça de mandar mensagem pelo WhatsApp confirmando o local do nosso próximo encontro, tchau!
Iêda Chaves Freitas
05.04.2023