Mozzie
(ou Ele parte II)
Era agosto quando o conheci por obra da grande curiosidade que me é característica. Ele era em essência exatamente como é hoje. Poucos meses depois, embaixo de uma chuva torrencial nos conhecemos pessoalmente, ele de moto e tênis, e depois poucas vezes o vi de chinelo nos pés. Nas horas seguintes foram incontáveis os assuntos e as vezes que chorei de rir. A piada dele fazia sentido e, se não fizesse, valia a pena rir só para vê-lo sorrir. Fiquei inebriada, pelo saquê, pela conversa, pelos risos. Decorei os sorrisos dele em poucos dias. Não contamos dias, não marcamos datas e até tentamos fugir um do outro – mas não deu.
Ele gostava de conversar assim como eu, mas a gente sabia a hora de ouvir o outro, não era preciso pedir. Desde o início ele queria me ver sorrir e, quando eu começava a chorar sem motivos, era ele quem ria de mim. Ele me deu livros, e isso diz muito sobre quem ele é. Ele observava tudo e todos sempre. Parecia uma boa companhia para conhecer e criar memórias pelo mundo.
Ele gosta do verão, sol e dias de céu azul, me ensinou a curtir um dia sem fazer nada, coisa que eu nunca consegui, como ninguém. Com ele era confortável pensar que tudo bem não querer fazer e resolver tudo. Afinal, tínhamos ali tudo, sem saber disso.
Ele sempre acreditou em mim, desde o nosso primeiro encontro que não teve encontro. Acreditou que eu poderia fazer o que eu quisesse: estudar, tirar minha habilitação, fazer academia, correr. Correr ainda estou devendo. Ser mãe novamente. Acreditou tanto que torcia para que eu acreditasse sozinha, pois senão, de nada adiantaria. Ele sempre me viu tão humana e isso chegava a assustar. Isso é raro. Ele vê beleza quando acabo de acordar com os olhos inchados, quando estou descabelada, desarrumada e quando resolvo passar um batom vermelho mesmo que seja pra ficar em casa. Gosta que eu me sinta confortável e não tem opinião sobre o meu corte de cabelo: prefere o que eu achar mais prático e me fizer sorrir para o espelho.
Ele me deu seu silêncio, suas palavras, seu ombro, olhos nos olhos, seu tempo e aperto de mão firme seguido de um abraço. Com ele eu aprendi a me deixar aconchegar, abraçar, carinhar. Eu que sempre tive dificuldade com toques e afagos achei fácil. No meio disso tudo descobri que o amo, o amo por quem ele é de verdade: do seu lado mais sereno e doce ao mais triste e sem controle. Sei o que o irrita e o que tira o fôlego de tanta alegria. Sou feliz por ele. Sonho os seus sonhos. Choro suas lágrimas, tomo suas dores mas o deixo lutar suas próprias batalhas pois sei ser importante. E tudo isso sem exigir reciprocidade pois quando se exige não tem como o sentimento ser espontâneo.
Ele é meu amigo. Meu melhor amigo. Uma parte profunda de mim que eu não conhecia. Tenho ele no coração e na pele. No cheiro, no jeito e no vocabulário que é só nosso. No nosso mundo há espaço para o dele e o meu. É um mundo imperfeito que funciona pra nós e para as nossas esquisitices. Desejo a ele toda felicidade do mundo e sei que é isso que quer a mim também. Mesmo quando às vezes a gente se faz tristes, nunca ficamos muito tempo assim. Eu aprendi a escolher a ser feliz e não a ter razão antes de tudo. Tenho tanto para aprender com ele. Às vezes penso que talvez este tempo seja pouco. Ele me diria que é o suficiente. Acredito nele. Chamo isso de amor, namoro, amizade. E é tudo isso mesmo, mesmo que sem rótulos.
Sigo vivendo ao lado dele mesmo que em países diferentes. Algumas vezes colados, outras mais distante, mas procuramos sempre somar e somar ao nosso mundinho particular.
Eu, que nunca acreditei em sorte, vivo ao lado dele me sentindo tão sortuda: Ele é o cara mais da hora que conheci. E não vejo a hora de conhecer sua nova parte, que está por vir.