Afinal, o que é a Filosofia?
Eu de mim só sei que existo
Tenho essa certeza, inabalável certeza, porque ao tocar-me, mesmo que não me olhe, mesmo que ao escuro, eu sei, que, ao tocar-me, sinto o toque, sinto que é em mim que o toque se deu, e não em outro.
Porque fui treinado em dar existência às coisas que posso ver. Materialista? Sim. O concreto me é essencial. Não concebo o Ideal por si, como a possibilidade do visível; o Ideal, sem desmerecer quem a ele recorre, me é plausível na medida que possibilita, através da imaginação, buscar, no pensamento, as formas, com as quais, e só assim, posso conceber o objeto para uma primeira investigação, como caminho de estudo. Devo, a partir do pensamento, permitir que ele me conduza, que me conduza não como se eu fosse uma criança conduzida pelo mestre, mas conduzido como desempedido, sem oferecer resistência mas sem deixar de estar atento às pedras pelo caminho.
Dar as mãos. Dar as mãos como um convite para um passeio. É disso que penso ser o principal papel da filosofia. Um convite para andar pelo bosque, pelas montanhas ou, quem sabe, até num simples fritar de ovos numa coxinha buliçova, simples, cadeiras de madeira, cuador de pano e um convidativo cheirinho de café, eis aí, e sem premissas apressadas, a possibilidade, a feliz possibilidade de dar à Filosofia a passarela para que ela reine. Assim sempre será, se , eu de mim que sei que existo, o que, sem ofender ao mais desinteressado dos presentes ou amigos passageiros no trem da vida, nada posso, além, e só por isso, dizer que dos caminhos até aqui percorridos, deixo às margens dos rios ou à beira da estrada, minhas pegadas, simples e sem pretensões outras que não a de estar sempre aberto às novas possibilidades. Reconhecer minhas limitações e, até, indiscrições, mesmo que involuntárias, não me isenta de críticas. Sou, porque humano, falho e limitado. Aprendo e apreendo tudo que possa contribuir para que outra maneira de interpretar o mundo possa me ser útil; afinal, é caminhando que se faz o caminho. Assim é a filosofia, ou melhor, o percurso filosófico. Então, nessa estrada, por si só maravilhosa, tento nela poder transitar e torcer encontrar no trajeto pessoas que me ensinem como seguir. Eu de mim, só que existo, o restante, puro desejo.