Nunca fui filha
Não fui desejada
Comemorada
Recebida com alegria
Não tive o peito
O colo
O acalanto
Não conheci o conforto no pesadelo
O abraço no medo
Conheci uma mulher já cansada de tantos partos, de tantos choros , atarefada, subjugada
Nasci dessa mulher
Nasci bruta
Com a responsabilidade de sobreviver sozinha
Fui menina solitária
Confortada pelo livros que lia embaixo da pitangueira ou escondida no velho banheiro de cerâmica vermelha
Acariciada pelos sonhos
Abraçada pela poesia.