Blusa de outono
O vento do sul daquele final de abril, cortava como navalha, eu vestia uma camisa e por cima dela, um suéter
só ele me bastava, não demoraria muito para chegar em casa, andava a pé, o calor do corpo se misturava com o vento.
Ela desceu no ponto do ônibus, também não tinha carro, quando se é jovem isso não importa, só o copo cheio de vinho
e um cigarro aqui e ali servem. Ao descer, sorriu ao me ver e disse "Nossa, nos conhecemos nesse mesmo ônibus, lembra?"
Eu sorri, não disse nada, a esperei, fomos caminhando juntos, ela falava e eu ouvia e a fumaça do meu cigarro de filtro amarelo ia pelo ar contrastando com o cheiro do nosso perfume e o vento. Ela falou tudo e eu apenas disse, tirando minha blusa "O frio chegou com tudo, toma" e ofereci minha blusa fina de outono a vestindo.
Ela sorriu com olhos por trás dos óculos e disse "Nunca mude esse seu jeito" e com a minha blusa, me segurou pelo braço, deitando em meu ombro, em silêncio... Sabíamos que o mundo era nosso, o outono era nosso e naquele momento, naqueles segundos, ninguém era mais feliz que nós.