Prisão
Os versos não cantam mais
Não vibram
Não dançam
Os dias não mais inspiram
Nem o riso, nem o amor
Nem a dor, quem diria!
A magia perdeu-se
por um caminho desconhecido
Escapado, repleto de espinhos
Coabita hoje com o mofo do tempo
Como trapos velhos e desbotados
Os versos que antes tinham formas
cheiros, cores, tanta vida
Respira pesado seus últimos suspiros
De um tempo de glórias
Alimentando-se de sombras
De sobras de memórias
Mitiga o que antes era imenso
Busca existir, fluir sem sucesso
Vibrar, virar-se do avesso,
em seu próprio eixo
Encontrar-se e encontrar o elo extinto
A própria essência do sentir
Os versos não cantam mais
nem uma nota nem mesmo um acorde,
Eles são apenas ecos dissonantes
que ferem, rasgam a alma erodida
Debatem-se contra paredes,
de uma prisão de analgesias
que bradam em silêncios embotados
E não permite a inspiração eclodir.