Intruso

Encontrei-me preso num mundo que não me pertencia. Um mundo familiar que deveria fazer parte de mim como fora destinado.

Não recordo do momento em que me perdi, da mesma forma que não vem a mim as memórias de como voltar ao meu antigo Eu.

Há muito que temia tal pesadelo voltar.

O pesadelo de conter a companhia do silêncio, mas ao mesmo tempo do ruído. O pesadelo de tornar-me incapaz de ver além do cinza.

Transparece cada vez mais o corpo seco que toma forma ao tempo que a corrosão de fingir caber-me a este mundo se expande.

Viver como intruso no mundo daqueles que um dia me assemelhei revela-se algo insuportável. A pressão proveniente de todo lugar, mas também de lugar algum ameaça constantemente de irromper-se

O ponto chave desta perturbação é não saber quando nem o que acontecerá após tal explosão.

Mostra-se gradualmente mais cansativo e intolerável a tentativa de manter uma sanidade saudável neste mundo. Talvez, num futuro próximo a corrida entre a loucura e a autodestruição chegue ao fim.

Até lá, continuarei com as buscas incessantes de uma saída inexistente.

Lanka
Enviado por Lanka em 29/03/2023
Reeditado em 30/03/2023
Código do texto: T7751913
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