SONHO DESGRAÇADO
Era um sonho desgraçado e ainda assim não havia nenhum ruído. Acordava ao som como o de um disco arranhado tentando dar sentido ao que fora destruído.
As imagens em câmera lenta passavam e voltavam, como um rio tentando sair do mar e desfazer o que fez. Tentando retornar à sua fonte ou qualquer outro lugar que o fizesse ser somente doce outra vez.
A pipa solta no céu não me faz lembrar dos dias chuvosos. Por um curto instante o sol me fazia piscar os olhos. Lembro de me sentir parte daquela extensa rabiola e também do cabresto que conduzia toda trajetória.
Eu podia voar e ir até onde nenhum avião nunca me levou. Lugares vivos onde o sonho pousou. Existe uma linha com cerol me cortando agora. Uma parte do que não mais sonho me dizendo: Acorda!
E como quem foge, voltarei a beber minha realidade num único gole. O mar de ressaca me deixou destroçada. Uma pipa ao vento e um rio desgarrado. Preciso mais daquele sonho desgraçado.