Milho aos pombos
Soa a campainha, quem poderia ser a esta hora? Levanto sonolento empurrado por alguma força que desconheço e não vejo ninguém,
Talvez ninguém me veja também,
Sempre na mesma hora sento na praça central e dou milho aos pombos, deve ser este meu primeiro sinal de velhice constatada,
Veja bem não estou mais preocupado com o tempo, sei que o que me resta e exatamente o suficiente, sinto que minhas provas de vida se esgotaram em algum ano que não percebi,
Essa seriedade velha e oxidada já não me serve, prefiro esses papos assustadoramente furados e cheios de mentiras e algumas verdades escondidas nas entrelinhas,
Volto pra casa mais estranhamente não me sinto parte dela, soa a campainha abro a porta e não vejo ninguém,
Talvez ninguém me veja também...