TEMPO DE HOMENS SECOS
Eis o nosso tempo: aquele tipo de era em que a água parece ser motivação para homens se matarem. E não apenas matarem a sede uns dos outros. Tempo que não se abrir janelas para o balé do beija-flor. São tempos de secura nos campos e nos lábios. A chuva molha os homens e eles não parecem curados da seca, porque ele é mais do que uma estação, é uma pomada que besunta neles o que se chama de alma. Saem ao sol, mas não para colher dele o brilho, são apenas sombras fugindo do fogo. Usam uma túnica cafona e se dizem mensageiros de Deus, mas não se sabem o quer verdadeiramente são: arremedos de espantalhos, quarando na hora mais triste do sol. Aquela hora que homens são apenas pequenos rascunhos, esquecidos em qualquer gaveta da criação.