TEMPO DE HOMENS SECOS

Eis o nosso tempo: aquele tipo de era em que a água parece ser motivação para homens se matarem. E não apenas matarem a sede uns dos outros. Tempo que não se abrir janelas para o balé do beija-flor. São tempos de secura nos campos e nos lábios. A chuva molha os homens e eles não parecem curados da seca, porque ele é mais do que uma estação, é uma pomada que besunta neles o que se chama de alma. Saem ao sol, mas não para colher dele o brilho, são apenas sombras fugindo do fogo. Usam uma túnica cafona e se dizem mensageiros de Deus, mas não se sabem o quer verdadeiramente são: arremedos de espantalhos, quarando na hora mais triste do sol. Aquela hora que homens são apenas pequenos rascunhos, esquecidos em qualquer gaveta da criação.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 10/03/2023
Reeditado em 13/03/2023
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