Boca de farpas

aceito de bom grado

a gentileza da dança

desta valsa solitária,

desta feita, a solitude

o abraço que me dou,

que alcança outroras

de mãos longínquas,

faz leve a tristura, leve

cá, estas tintas novas

não tingem como antes

o meu remoto discurso:

lírico, lúdico e casto

é fato: treslouquei, sim

endureci as locuções,

dos loucos humanistas

quero parentela, guarida

vetustas pontes, detonei

destruí antigos vilarejos,

povoados antes familiares

e agora, cobertos de areia

bastou que aprendesse

a ir além das molduras

para saber das clausuras

hereditárias e ilógicas

bastou que desnudasse,

manifestasse o desejo

na praça pública da vida

para o desaplauso geral

e, assim, cheguei até aqui

com os olhos secos,

desempregados da visão

de ver no óbvio, o óbvio

desvejo, enfim, o que fui

para repatriar os chegantes,

dou-lhes água fresca,

refundo minhas semânticas

a estranheza nova em folha

há de apadrinhar-me, sim

acolher os espinhos retóricos

beijar-me a boca de farpas

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 09/03/2023
Reeditado em 09/03/2023
Código do texto: T7736340
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