Boca de farpas
aceito de bom grado
a gentileza da dança
desta valsa solitária,
desta feita, a solitude
o abraço que me dou,
que alcança outroras
de mãos longínquas,
faz leve a tristura, leve
cá, estas tintas novas
não tingem como antes
o meu remoto discurso:
lírico, lúdico e casto
é fato: treslouquei, sim
endureci as locuções,
dos loucos humanistas
quero parentela, guarida
vetustas pontes, detonei
destruí antigos vilarejos,
povoados antes familiares
e agora, cobertos de areia
bastou que aprendesse
a ir além das molduras
para saber das clausuras
hereditárias e ilógicas
bastou que desnudasse,
manifestasse o desejo
na praça pública da vida
para o desaplauso geral
e, assim, cheguei até aqui
com os olhos secos,
desempregados da visão
de ver no óbvio, o óbvio
desvejo, enfim, o que fui
para repatriar os chegantes,
dou-lhes água fresca,
refundo minhas semânticas
a estranheza nova em folha
há de apadrinhar-me, sim
acolher os espinhos retóricos
beijar-me a boca de farpas