Não me perguntes
Não me perguntes sobre as cores daquela tarde chuvosa
em que segurei tuas mãos desfalecidas.
Não me perguntes onde estão as flores oprimidas por teus olhos áridos.
Vi teus lábios se contorcerem naquela manhã apática, mas meus olhos,
envoltos por nuvens escuras enxergavam luminosidade leniente,
enquanto tu eras presságio, peça sem costura.
E quando diante do espelho vi uma imagem distorcida,
olhar oblíquo, não te reconheci.
Fescenina e réproba, tua melopéia feriram meus tímpanos,
ímpetos de evadir se apossaram dos meus sentidos,
todavia, os membros arrefecidos, não obedeceram ao comando
desse coração singular.
Então não me perguntes mais sobre meu silêncio apartado,
sei que tuas lágrimas não movem nada móvel
e não comovem as fímbrias das tenras flores do jardim prometido.
Os grilhões desse ajoujo não são de hoje, vem de épocas remotas,
apanágio atávico em estágio de mutação.
Portanto não me perguntes mais em que paisagem meu coração se desviou, a incerteza é minha companheira nestas horas desmedidas