Caneta Tinteiro
A conversa mútua se misturava na fumaça; era estranho, não entendia se a realidade era real. A lente direita do óculos de alguém estava quebrada, um tipo de premonição que foi transfigurada de algum lugar do espaço para fictícia mente jovem de um estudante.
Bateu o sinal, acordava de um sono intenso; pessoas corriam, materiais sobre o chão, a tinta das canetas compradas à três anos atrás escorria enquanto você partia rapidamente por medo, enquanto esquecia os motivos pelos quais ficaria lentamente foram deixando de existir.
Época difícil. Chamo e refiro como “época” esses pequenos aglomerados de segundos, que em minutos se transformaram; e só restou o último reflexo do sol caindo, e você se foi.
Sanidade não combina com o alfabeto, de fato Shakespeare sussurrava para os amantes, enquanto Renato Russo compunha para os suicidas. Talvez assim seja, palavras de amor confundem minha mente, e você me trás de volta toda vez que a tinta persiste em escorrer.
Mas afinal, a caneta tinteiro havia virado moda. Era necessário controle, para passar por descontrolado. Atores atuando junto ao baralho; pôquer não era o que gostava, mas aturava, só pra te ver mentir as cartas por orgulho. Apostaria tudo em você.
Percebo que sonhei, devolvo à loja de fronte ao colégio, esse óculos sem a lente direita. Espero que cada vez que force distanciar-se, seus olhos se libertem para a imensidão do mundo. Lentes não cicatrizam.
Tire os óculos; esqueça o alfabeto; abandone por um momento todas memórias e conceitos. Se desfaça por mim. Tire a roupa em pensamento, e guarde-as em efeito degrade nas prateleiras.
Decidiu fugir, mas o pensamento permite-nos sermos eternos.