Quinta-feira

O calor da última quinta feira do ano. Com um céu branco de flocos de algodão, bonito e bem nublado. Igualzinho ao meu coração, no qual rondam um montão de perguntas sobre as intenções daquilo que você fez. Metade mim acredita em romance e deduções não tão lógicas depois de passar uma manhã e o início da tarde lendo os contos de Conan Doyle. A outra metade me chama de louca e desconfia das minhas capacidades de Sherlock Holmes.

Atrás das nuvens brancas é provável que exista um céu azul, mas, também, provável que haja uma tempestade barulhenta e depressiva. O mais engraçado é que você saberia me dizer o que há por detrás das nuvens, mesmo sem saber do tempo fechado que se instalou no meu coração.

Das pistas não dadas e dos sinais imaginados eu estou farta. Falemos então das nuvens. Segundos atrás elas eram floquinhos fofinhos, mas agora que é tempo de dissolver o temporal, eu posso ver os raios - os mesmos que percorrem o espaço entre nós.

Sim! Eu juro que não era loucura da minha cabeça - quando os nós dos seus dedos tocaram as minhas costas pra me indicar o caminho, eu senti...

Fagulhas, raios, relâmpagos, trovões... Tá chovendo e não é pouco.

No início era chuva rápida, daquelas típicas de verão. Alma encharcada, sorriso na cara e disposição pra enfrentar tudo.

Mas eu disse que fiquei farta, né?

É porque as consequências da chuva são reais - se você não quer arcar com elas, não desagüe em todas as flores que te cativam.

Quanto tempo existe entre a estiagem e o próximo verão?

Nessa terra de estações indefinidas anda chovendo quando menos se espera.

Dia desses teve aquelas chuvinhas fininhas e persistentes que, quando você menos espera, já molhou sua bolsa, sua roupa, seu cabelo, seu sapato...

Ainda não decidi se quero levar guarda-chuva.

Se não levar sei que posso me machucar. Mas um guarda-chuva nunca vai me permitir olhar o céu e me divertir com os raios cruzando o espaço entre nós.

Eu tinha medo deles quando criança, os raios e trovões. Tão inofensivos hoje. E muito melhores que o seu teatro de tentar imitá-los. Um clarão seguido do som - você sabe, a velocidade da luz é maior que a do som. Os seus clarões não vieram seguidos de uma palavra, uma explicação ou insinuação.

Estou farta! E agora minhas lágrimas caem junto com a chuva ao som da tua música.

A droga é que eu sou apaixonada pelo cheiro de terra molhada.

Esse negócio de terra molhada e música me lembrou até aquele rock in Rio que todo mundo terminou enlameado. Uma bagunça só - bem representativo, né?

Os rocks que a gente ouviu esses dias são uma ótima trilha sonora. Acho até que daria uma grande cena! Que fotografia! Já pensou se num desses dias loucos eu resolvesse agir e quebrar a guitarra no palco? Até consegui imaginar o meu sorriso ensandecido, as cordas arrebentadas, a guitarra partida e o coração pulsando

Você seria capaz de lidar com o estrago? Ou deixaria o playback rolar como você sempre faz? Já sei! Aposto que estaria num outro palco ao som de bossa nova. Eu conheço esse single - o refrão repete sempre igual depois de dois ou três versos diferentes.

It's over.

Uma imensa prosa poética em forma de carta ou vice-versa, exagerada como eu - e você gosta de ressaltar isso - pra dizer que acabou. O que você nunca teve coragem de começar.

A última quinta-feira do ano, e eu escolhi um tempo bom pro próximo ano. Não essa sua tempestade confusa. E eu espero que, pelo menos, dessa tempo nublado e da sua desilusão você faça música. Quem sabe alguém encontre o amor ao som da história que nem começou.

Um dos poetas e S F
Enviado por Um dos poetas em 25/02/2023
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